sexta-feira, 25 de abril de 2008

Recife - parte I




Vejo a estrada estender-se sobre nosso horizonte.
Úmida, encharcada, pela chuva que cai incessantemente.
Perco-me pela janela lacrimejada,
Encolho-me do frio que vem na carona,
E esqueço para lembrar Recife.
A palavra intensidade toma forma e sabor.
As palavras buscam o corredor dos dedos,
Mas esbarram na brisa da emoção.
Sente-se, simplesmente.
Não existem formas pra expressar o que eu sinto.
Uma sucessão de memórias emotivas
Constituem um mosaico que, pouco a pouco,
Vai tecendo esta poesia
E explicando o que nunca deveria ser explicado.
Senta-se na rua do Hospício,
Que assim se chama
Talvez pela loucura das bocas que não se calam
E sorriem, e cantam, e beijam, tanto,
Mas tanto,
Que mesmo o beijo confunde-se com a fala
E canta o prosear.
E nesta rua, do Hospício,
Entrego-me ao lado humano do ser,
E esqueço de tudo o que já foi dito.
Já não sou mais,
Sou parte.
A rua arruma-se entre bancas de verdureiros,
Pratos de macaxeira e
Copos americanos de cerveja.
Evanildo e seus pileques descontraídos
Durante o expediente e um ou outro prato de bodera.
Comum sorriso incompleto mas não menos brilhante,
Esquece que te conhece a cada hora que passa,
Mas em nenhum instante deixa de fazer
Com que tu te sintas em casa.
Roberto, com suas aventuras de consultor de entretenimento,
Um nome galanteador para a profissão de
Vendedor de apólices de um clube aquático,
Mas com uma sabedoria que justifica seu abandono de São Paulo
E do material, para sagrar-se livre.
Dalva e carioca, enquanto um canta a outra acaricia e encanta.
Licinio com suas declarações de amor alcoolizadas,
Seus abraços apertados e suas promessas
De hospedagem e “me ligue de onde estiver”.
É bairro de Boa Vista, ao centro da cidade,
Com suas vielas de favelas,
Seus casarões cheios de histórias,
Suas histórias ouvidas em cada casarão.
A praça Cecília Meireles, reserva à escritora
Uma escrivaninha e meia luz
Para seu eterno escrever em bronze
Ao lado do chafariz em estilo renascentista
Que jorra água ininterruptamente,
Trazendo sensação de chuva
Para o quarto do Hotel Americano,
Que fica em frente a praça.
Ardia o sol lá fora
E lá dentro eu dormia ao som da chuva.
As calçadas espremem-se e os carros dividem a vez na rua
Com quem passa.
Todos vão.

Nenhum comentário: