domingo, 31 de agosto de 2008

injustiça!!!

Banco de Imagem - skyline, human, cabeça
davidt0772r Illustration Works Royalty Free
sabe qual que é? fico impressionado com essa gente que pensa, ou acredita, ou acha, ou imagina, que tem a solução para tudo e que é o grande injustiçado da humanidade. essa gente que chora por que não recebeu duas estrelinhas da profe. essa gente que quando não ganha, por que tem o ego maior que o buraco da camada de ozônio, fica pelos cantos chorando e dizendo que não era legal, que tudo foi mal organizado, que não deveria valer. gente mimada e sem coragem de sair debaixo do cobertor de lã! gente que passa a vida tentando ser globático, aperecer no arquivo confidencial do faustão, dar entrevista ao jô e ter sua vida repassada no video show, mas que fingi ferrenhamente de que não é nada disso. tem um, li não faz muito tempo em um blog antigo, reclamando que em são leopoldo ele não era reconhecido e que agora, quando um paulista viu seu trabalho como blogueiro (uau, a profissão do futuro!), esta sendo reconhecido. tadinho, e a gente de são leopoldo não colocou esse santo no seu devido altar? como somos cruéis! não acredito que deixamos nosso filho desamparado. ainda mais são leopoldo que tem mais de 23 mil pessoas abaixo da linha da pobreza. como essa gente não deu valor ao seu filho mais talentoso? teve que vir o uol para satisfazer o apetite popstar de nosso desgarrado capilé. também teve, tem, aquele que ainda não admite que seu texto não tenha sido publicado em livro. mas como? atenção todos os capiles, temos que dar mais valor aos nossos genios! impossivel conceber que nosso imortal não tenha seu texto publicado em livro tão genioso e de edições mundiais. logo são leopoldo que tem taxa de analfabetismo em mais de 4,78%. inconcebivel. ha também quem, lacrimejem, nunca teve sua musica reconhecida pela grande massa leopoldense. pode? nós que temos mais de 350 bandas em são leopoldo não reconhecemos nosso brilhantissímo musico. ate beethoven foi reconhecido. mas nosso gênio não. Inacreditval, ainda mais para uma cidade que foi uma das protagonistas num dos maiores desastres ambientais do estado com a mortandade, por níveis de poluição do rio dos sinos, de mais de 85 toneladas de peixes. é inverossimil que uma cidade como a nossa não esteja dando visibilidade e sucesso aos seus grandes artistas. inclusive eu, um dos maiores atores do estado, um dos maiores cineastas e fotografo da são caetano, não tive meu sucesso ainda reconhecido. por que a globo ainda não veio me buscar para ser astro de suas novelas? porque ninguém de são leopoldo me leva para fazer teste no sbt? onde esta hollywood ou a national geographic que ainda não reconheceu meu talento nato? não entendo. como isso pode acontecer em são leopoldo, a cidade onde há o maior numero de mortes entre jovens no pais? por favor, deixem-me respostas, preciso delas. sei que são vocês que as tem. voces, genios inconfundiveis e desprezados. van goghs capilés! não, não deixai, ó povo tão humilde, que passe a vida sem que reconheçamos aqueles que tanto fizeram-fazem-farão por nos. não deixemos apenas para a morte o reconhecimento destes seres que vieram para este plano terreno para nos salvar de todo mal e de toda dor. e que estes nossos grandes mestres nos ensinem. que olhem para este povo que, bem ou mal, tenta fazer alguma coisa culturalmente ativa. este povo que não detem todas as qualidades cenicas, musicais ou corporais, mas que sabe que mais vale um povo burro que age, do que um povo ignorante que só fala. trazei-nos a luz, óh mestres renascentistas! ou isto, ou parem de reclamar e pensem em soluções mais úteis a nossa terra. como pontuar um texto, por exemplo...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

motivos para não beber?

eu acho que estou enlouquecendo. já nao sei mais o que sou, o que quero ser ou o que ainda posso ser. sinto estar no limiar entre a decadencia e a ascendencia. não sei se vivo um amor ou se é ele que me curte. já nao sei por quem estou apaixonado ou quem está apaixonado por mim. um dia fui viril ao extremo e hoje sou poeta. e quem ainda lê poesia? pra quem a poesia ainda interessa? o que querem se não a busca pelo instantaneo? consomem drogas que levam ao extremo do fim em lugares que são o extremo da surdes (também por que não há nada a dizer); olham o sexo oposto, ou o mesmo, e nele procuram o imediatismo. é natural, perduram. é da idade. que idade? a tua? do organico? esta é uma geração Miojo. trabalho em um trabalho que por vezes me convence que nada adianta de fato, pois sem fome não há a venda dos pratos, e por vezes me convence de que contrataram a propria fome para trabalhar. amontoan-se as siglas e os corpos. no mais, são todos noticias do jornal das oito. e do meio dia. se eu te convidasse para almoçar em um frigorifico, em meio as carnes semi-vivas o que me dirias? e se te convidasse para almoçar em minha casa assistindo ao Jornal do Almoço? não tenho nada mais que minha ideologia. e para que serve ninguem sabe. quase nem eu sei. bebo, fumo, choro e escrevo. a distancia é uma merda, mas a merda é necessário ou explodiriamos. é também na distancia que me pego a pensar em ti. e este pensamento é o que norteia o primor destas linhas. nem sei se teus labios já tocaram outros labios ou se um dia querem tocar os labios meus. mas és minha princesa e no reinado desta angustia sou teu servo. para o dia de amanhã digo que esta é a terceira bock e que, portanto, só penso o que esvrevo... mas ainda acho que estou enlouquecendo. aos meus amigos que ainda acreditam na esperança, peço força. aos que já nem acreditam mais, ofereço um copo...

sábado, 23 de agosto de 2008

Só na ponta...

Está uma noite daquelas. A lua flutua no mar negro da imensidão do espaço linda, cheia e resplandecente. A temperatura está amena, ideal para se beber um café ou uma cerveja. Na rua, as pessoas saboreiam a noite por ser sexta-feira e por estar uma deliciosamente noite para se saborear. Todos, hoje, são amantes boêmios da vida. Inclusive ele, que sorve o último gole de seu café e fecha a mochila de viajem. Coloca-a nas costas, enche o pote de ração do gato, alisa-o por inteiro, pega as chaves da moto, o capacete, apaga todas as luzes de seu apartamento e sai. Estacionada na frente da porta do edifício está sua moto, uma Dafra Kansas, 150Cc estilo estradeira. Coloca a mochila sobre o banco e passa o extensor prendendo-a firmemente. Põe o capacete, monta sobre a moto, dá a partida, olha para os lados como que procurando um rumo e acelera seguindo a mão de transito da rua. Não sabe para onde ir, mas sabe aonde quer chegar. Toma a estrada e ela o toma. Atira-se no horizonte escuro que se estende ante seus olhos e deixa-se embalar pelo vento. Um vento morno, que acaricia seu rosto de forma tenra e acolhedora. Seu olhar fixa-se à frente e seus pensamentos vagam para todos os lados conduzindo a velocidade da moto e essa, amena, não ultrapassada os 80Km/h. No céu alguma estrelas imitam o tintilar de luzes da cidade que vai ficando pra traz. O cheiro do vento agora é de crustáceo. O próprio ar é mais gorduroso. É bom, lembra o verão. E o verão lembra disposição e a disposição lembra auto-estima. Sorri com os cantos da boca.
Das três pistas da Free-Way escolhe a mais à direita. Não há pressa. Só o que lhe interessa é partir, seguir em frente, sair de casa, abraçar o mundo. Dar uma chance à aventura, ao inesperado, a surpresa. Cada quilometro rodado é um ano á mais de vida. E não por um calculo cronológico, mas por um melhor aproveitamento dos anos já vividos. Há tempo para pensar, refletir, lembrar. A estrada é longa, plana e reta. Permite à mente desligar-se em quase sua totalidade e deixar que a razão coordene o pouco que há para coordenar. Ele simplesmente segue. E seguindo torna-se livre. E a liberdade é estar vivo. Livre arbítrio. Tem essa regra tatuada no pulso esquerdo. Ergue-o, lê e suspira. Livre arbítrio. Do bolso da jaqueta que veste retira um cigarro e um isqueiro. Por que não? O vento traga bem mais fundo, mas e daí?! O fato não é fumar, mas escolher fumar andando de moto. O tempo por um instante deixa de existir, ou melhor, deixa de correr.
De repente algo no retrovisor direito lhe chama a atenção. Consequentemente a mente retorna ao seu lugar. Do retrovisor identifica um carro em alta velocidade, vindo na mesma pista que a sua. Ele guia a moto no meio da pista e decide mantê-la assim enquanto sentir-se seguro. O carro continua vindo atrás dele como dois meteoros paralelos atirando-se na imensidão da noite. E ele esta na frente deles. Duas luzes brilham. É uma vermelha e outra azul. Não são meteoros, é a policia. Os faróis da policiam aumentam e diminuem de intensidade, num sinal claro que estão sinalizando para ele. Como eles não diminuem, ele decide reduzir ainda mais a de velocidade, tomando o acostamento até parar a moto por completo e desliga-la. A viatura da policia pára logo atrás. Um policial desce e ele retira calmante o capacete. Um outro policial também desce da viatura, mas fica parado em pé atrás da porta aberta. O primeiro á descer aproxima-se da moto e lhe ordena:
- boa noite. Os documentos da moto e do senhor, por favor.
- boa noite. Claro. Vou pegar a carteira no bolso da calça, ok?!
- claro.
Ele pega a carteira e entrega os documentos requisitados. O policial com os documentos averigua a numeração da placa e da habilitação. Após, devolve-os:
- ta indo pra onde?
- floripa.
- floripa a essa hora? Conta outra!
- e qual a hora certa? Trabalhei até as 6 horas da tarde me arrumei e saí.
- sei. E na mochila?
- roupas.
- sei. E um bagulinho pra fumar e vender lá em Floripa, né?!
- não.
- e pra que andar tão devegar?
- não há pressa.
O policial sorri ironicamente e grita ao outro parado atrás dos faróis e da porta aberta da viatura:
- tu ta ouvindo? Ele falou que ta andando devagar por não tem pressa. Na Free-Way! Pode? – voltando rispidamente para ele – conta outra! Tu ta loução, sim! Com uma baita moto dessa tu não vai querer correr?
- ela é 150Cc. Se eu correr, chego até onde?
- da onde 150Cc? Essa aí é daquelas de 750Cc.
- não é não. É só a cara dela. Essa é uma Dafra Kansas 150Cc.
- é nada!
- tu não viu no documento?
- é claro que eu vi! Mas não desconversa. Tu ta loução, sim! Olha tua cara, olha pros teus olhos. Tão um vermelhão só.
Ele para e fita profundamente os olhos do policial. Não pisca. O policial devolve um olhar incisado e cansado. As olheiras dimensionam as horas de trabalho. Quando pisca, uma lagrima escorre. Do nada, começa a chorar. Contidamente mas lacrimejosamente. Ele baixa os olhos por um instante e quando levanta começa a falar. O policial está espantado:
- cara, eu perdi tudo. Acabei de perder meu emprego, minha casa e minha mulher. A única coisa que salvei foi esta moto que inda estou pagando. Há um mês atrás eu tinha tudo: grana, mulher, casa, família, futuro, felicidade. Daí resolveram na empresa que era melhor cortar gastos. E eu descobri que era um gasto pra eles. Oito anos fazendo a mesma coisa, dedicando cada segundo de aprendizado para entender todos os sistemas de uma empresa que me considera um gasto. Minha mulher resolve, então, que é hora de falar a verdade, de dizer que há tempos as coisas não vão indo bem entre a gente e que era melhor falar logo do que ficar enrolando ainda mais. Mas ela disse que não era pra eu me preocupar, pois eu encontraria alguém especial para mim. E disse também que a casa ficaria com ela, pois fora seu pai quem tinha emprestado o dinheiro da entrada para compra-la. Só esqueceu de mencionar que era com meu dinheiro que o empréstimo estava sendo pago, assim como as parcelas que ainda restavam da casa. A moto ficaria comigo e também as prestações. Disse ainda que só estava fazendo aquilo pois sabia que aquilo era o melhor pra nós dois. Simples, assim. Ela sabia por nós dois. Agora me diz, vou ter pressa pra que? Pra chegar onde? Não tenho mais nada, só tenho um irmão em Floripa. E é para lá que estou indo, nada mais. Com toda minha vida nesta mochila. Meus olhos vermelhos de chorar são a única prova que tenho do que estou falando.
O policial engole á seco. Olha para o lado e percebe que seu parceiro saiu do lado da viatura e também está ali, ouvindo. O silêncio é barulhento e perturbador. Ele baixa os olhos. O policial que chegou depois se obriga a encerrar aquele clima:
- então essa moto é 150Cc? Melhor ir devagar mesmo. Está até uma noite muito boa para se andar devagar de moto.
O outro policial volta de súbito do pensamento distante em que estava:
- é sim, é.
- vai lá, vai tranqüilo. Boa viajem. E se precisar da gente é só ligar. O numero está nas placas da rodovia. E guarda o numero porque depois de passar a fronteira dos dois estados me liga igual que eu mando o cara certo te ajudar.
Ainda sentado na moto, ele levanta os olhos úmidos:
- obrigado.
- vamos – diz o policial para o outro – eu dirijo.
Os guardas dão as costas, entram na viatura e seguem com os faróis baixos e em silêncio.
Ele observa a viatura que se perde no breu da estrada. Quando ela desaparece por completo, dá um sorriso irônico com o meio da boca. Recoloca o capacete, liga a moto, acendo outro cigarro e recomeça seu rumo.
A estrada parece mais leve. Talvez seja a sensação de piedade que acabara de gerar. Talvez, até, seja este o último sentimento que nos mova e que ainda pode nos mover: piedade. E um pouquinho de malandragem, é claro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Quarta-Feira - um reencontro depois muitos tempos

Amanda esta sentada escrevendo no computador. Olha pelo canto direito do olho e vê a tarde que se vai entre a persiana da janela. Não foi ao trabalho. Precisa ficar em casa sentada, escrevendo ao computador e espiando pelo canto direito do olho vendo a tarde se indo por entre a persiana da janela. Nem bem sabe o que está escrevendo, mas está. Até que encontre alguma inspiração, escreve apenas o que lhe vem aos dedos. Letra por letra. Espirradas pelas extremidades de seu corpo. São resfriados gramaticais. Um vírus contraído normalmente quando se degusta uvas Merlot ou sedas de arroz. Mas pode vir simplesmente pela fadiga racional. No caso de Amanda, um pouco de cada. Agora que se tornou uma pessoa tributável, com salário, compromisso responsável e uma boa quantia de remuneração, sente que os momentos de fadiga racional são importantes e, ainda, não podem ter hora marcada. Vai levando até quando der. E hoje está dando. Levanta-se para trocar o disco de vinil que toca na vitrola. Sim, uma vitrola. Coloca para escutar Tom Jobim e Elis Regina - neste instante Amanda pára, pensa e decide não comentar sobre o vinil. Não há o que comentar.
Está sem fumar á quatro dias. Melhor dizendo, está fumando menos cigarros á uma semana e meia. Fuma dois, três cigarros por dia. Quando fuma. Não fez promessa nenhuma. Apenas quis reduzir e está reduzindo. Ás vezes é bom provar para si mesmo que se é capaz de decidir as coisas para si mesmo.
O que acontece quando a realidade é aquilo que imaginamos? Se nos suicidar-mos com o pensamento convicto no que gostaríamos de termos sido, não acordamos em algum outro lugar sendo aquilo que desejávamos com tanto afinco? Sem lembrar de tudo, claro, senão não teria graça alguma. A sensação é estar disposto a perder algo tão valioso para ser o que se deseja ser. Neste caso, perder a vida. Acreditar que reencarnação é simplesmente vibrar diferente. Mas será que já não sou o resultado de um suicídio convicto de outra vida? Será que alguém em outra vibração não se suicidou com o pensamento convicto em ser o que sou? Que sabor tem a frustração imortal? Deixa-se levar pela musica. Se o passado é aprendizado, nada impede que se possa refazer o passado no futuro. Mas como fazer isto sem tentar revivê-lo?
A tarde se esvai pelo canto direito da persiana da janela, entre os olhos de Amanda...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Stricapuntinga

Ele está sentado na mesa do boteco olhando para o copo cheio de cerveja como se esperasse uma resposta. Ela chega, sela um beijo na boca dele e senta-se ao seu lado erguendo a mão direita com o dedo indicador em riste pedindo um outro copo.
Ele começa:
- demorou.
- não marcamos horário certo. nos veríamos no fim da tarde. Ainda é fim de tarde.
- tu sai do trabalho as 6h. agora são 7h15. tu demorou.
- demorei para o que?
O garçom traz o copo.
- pra me encontrar.
- não demorei, não. Marcamos o encontro conforme a posição do sol e o sol esta ainda na posição que marcamos. Portanto, não demorei.
- tu não leva 1 hora e 15 minutos pra sair do trabalho e chegar até aqui.
- e quem disse que eu viria do trabalho direto pra cá?
- achei que tu viria.
- achar não é ter certeza.
- onde tu foi?
- fui fazer umas coisas que eu precisava.
- que coisas? Cagar, mijar, coçar o cu? Que coisas? Seja mais especifica.
- ih, qual é? não sabia que esse encontro era pra ser um interrogatório.
- por que interrogatório? To fazendo perguntas simples para respostas simples. Ou tu não sabe o que responder?
- ah, tá. É vestibular, então. Tu devia ter me passado a matéria que cairia seria relações rotineiras de uma mulher independente.
- deixa de ser engraçadinha. Tu é minha namorada, tenho todo o direito de saber onde tu estava.
- opa, agora chegamos no ponto certo. pede pro Anderson um dicionário e procure “namorada”. Acho que tu não vai achar como definição “prestar contas de todos os passos dados sem seu namorado”.
- deixa de ser troxa. Agora que tu tá num empreguinho novo, acha que pode me tratar assim?
- tratar como? Tu ta viajando demais para um encontro pra beber uma cerveja. Se tu tivesse m pouco mais de coisas pra fazer durante o dia, não ia ter tempo pra ficar pensando merda.
- ah, agora o problema sou eu por que não tenho um emprego igual ao teu, né?! Deve estar me achando um inútil, é isso?
- que inútil? Tu é que fica com esse papo sem conteúdo e quer me aporrinhar.
- ah, claro. Eu estou sempre te aporrinhando. Agora que tu tem emprego, dinheiro e tudo mais, o pobretão desempregado aqui fica te aporrinhando. Quem sabe tu sai com um dos teus coleguinhas intelectuais?
- garanto que eles não viriam com este papinho...
- claro, com dinheiro e carro do ano quem precisa de papinho? É só ir num lugar bem caro, pagar todas as bebidas, te colocar num carro zero quilometro e te levar para um bom motel que não precisa nem de papo, tu vai logo abrindo as pernas e ta tudo certo.
- tu ta começando a me ofender.
- quem ta me ofendendo é tu. Fica jogando na minha cara que eu não tenho emprego e nem grana.
- quem disse isso? Eu só queria te encontrar.
- é, mas não pode responder onde estava antes de vir pra cá e por que demorou tanto.
- eu já te falei que não tava fazendo nada.
- opa, agora há pouco me disse que tava fazendo umas coisas pra ti e agora me diz que é nada. Fala sério.
- porra, onde tu quer chegar?
- na verdade!
- e que verdade? Eu já disse a verdade.
- como assim? Me pergunta qual verdade mas me diz que já disse a verdade? Se tu não sabe qual a verdade então como pôde me dize-la?
- dá pra parar com isso, por favor!?
- então fala.
- falar o que?
- o que tu tem pra me falar.
- mas eu não tenho nada pra falar, que saco!
- tu nunca tem nada pra falar. Tá sempre guardando segredos e sendo misteriosa.
- mas que merda! Qual que é a tua? A gente veio se encontrar pra tomar uma cerveja, ficar numa boa. Por que tu tem sempre que estragar tudo. Quer saber, vai a merda! Eu vou embora.
Tenta levantar e ele a segura pelo braço.
- espera. Desculpe. Eu não to legal.
- eu sei que tu não ta legal, mas também não precisa descontar em mim.
- ta, desculpe. Vamos tomar mais uma cerveja?
- mais uma não, uma. Ainda não bebi nenhuma.
- então bebe agora.
Ele levanta o braço direito e pede mais uma cerveja ao garçom.
- como foi no trabalho?
- normal. Umas burocracias e alguns e-mails. Como sempre.
O garçom traz a cerveja.
- tu pode pagar? Estou sem grana.
Ela suspira.
- claro.
- quer saber, esquece. – para o garçom – anota essa pra mim que eu pago amanhã de tarde.
- não precisa, eu tenho grana.
- se é pra ficar suspirando pra pagar uma merda de uma cerveja, não precisa. Só por que eu estou sem grana?
- não tem nada a ver. Eu só suspirei porque eu não queria que tu tivesse nessa. Ta sempre sem grana, mas não se mexe pra arranjar um emprego.
- emprego? que emprego? Onde é que eu posso trabalhar? Quer que eu fique trancado num comércio de merda pra vender um monte de eletrodoméstico em 500 prestações pra um bando de consumista insaciável idiota e ganhar 400 pilas por mês? To fora. Sou muito mais viver do que me render a esse sistema.
- que sistema? É só um emprego. Pode até ser só temporário. Mas pelo menos vai te dar grana pra gente poder fazer umas coisas a mais por nós dois. Melhorar nossa relação.
- ah, agora sim. Agora chegamos a verdade. Nossa relação ta uma merda porque eu não tenho grana, né?!
- não tem nada a ver.
- nunca tem nada a ver. Tu sempre demora, mas depois fala. Fica fazendo nesse joguinho de adolescente. Fala logo! ta uma merda porque eu não tenho emprego e nem grana e o que tu quer é um cara com emprego e grana.
- não, espera...
- espera o caralho! Quer saber, tu merece um desses playboizinhos de merda que ganham mesadinha do papai e tem um empreguinho de fachada nos negócios da família. Tem um carrinho que o papai deu quando passou no vestibular pra direito diurno, faz quatro cadeiras e te leva pra jantar no Scheneider. Depois te leva para o Mediterrâneo, te fode de qualquer jeito e sem nenhum sentimento e te descarta como se tu fosse só mais uma conseqüência que o dinheiro pode trazer. E tu ainda fica ligando pra ele cheia de amores no dia seguinte e ele nem te atende. Quero ver um cara desses te amar como eu te amo, sem dinheiro mas com muito sentimento. Com amor de verdade, como um poeta, como um amante.
- pelo amor de Deus, não é nada disso.
- nunca é nada disso! É sempre viajem da minha cabeça. é sempre eu que estou errado. A tua intuição até pode valer, mas a minha não. Qual é? Acaba logo com esta porra de relacionamento se tu ta cansada.
- tu tem razão. Eu estou cansada sim.
- viu!? Tu não tem coragem de dizer. eu tenho que ficar te apertando pra que tu fale alguma coisa. Eu sabia.
- não, não sabia não. Eu não to cansada da nossa relação, eu estou cansada é destas tuas paranóias. Pra mim chega. tchau.
Ela se levanta.
- onde tu vai?
- eu vou embora. Pra mim chega.
- então esse é o fim?
- não sei. Mas por agora é.
- viu como tu não me quer mais?
- acho que quem não me quer mais é tudo. Olha a forma como tu me agrediu verbalmente. Me tratou como uma puta. Pra mim chega. cansei de ser humilhada.
- porra, calma. tu não pode entender que eu não estou legal.
- claro, eu sempre tenho que entender teu lado. mas e o meu quem entende?
- porra, mas por que tu não me falou logo onde tu tava antes de vir pra cá. Tu também pede, né?!
- era uma surpresa, seu troxa.
Ela tira da bolsa e joga sobre a mesa um livro do Mario Quintana.
- feliz 10 meses de namoro, seu imbecil!
Sai porta afora.
Ele dá um soco na mesa e derruba a cerveja que molha a mesa, o livro e suas calças.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Resumo da Ópera

Ele entrando em casa:
- (introspectivo)Olá.
- (eufórica)Olá. Chegando cedo?
- (decepcionado)Nunca é cedo demais.
- (esperançosa)Como foi o dia?
- (Enfático)Igual a todos os outros: depressivamente saudável.
- (Irônica)A mesma ladainha pré-modernista da poesia da vida cotidiana.
- (relutante)A mesma critica eufórica de uma realidade vazia e presumível.
- (decisiva)Grande parte desta resposta é parte da pergunta. Onde se chega com tantas lágrimas? Ou afoga-se no próprio lamurio ou inunda-se a própria visão.
- (fastigante)Ao que me mostras deve-se, então, abrir mão do questionamento inevitável que a existência nos aponta por um modelo de rotina imposta e formulada pra evitar que o pensamento ideológico interfira no andamento da massificação generalizada de sorrisos plastificados e intelectuais viciados em gramáticas celulares e paginas de Web. O instantâneo escondendo o...
E ela sacou o revolver 38 que escondia sob a mesa e disparou contra o peito dele e depois contra sua própria cabeça.