segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Silêncio!

Eu bebo cada minuto de silêncio
Num compendio único e inigualável.
Não só por mim,
Mas também por todos aqueles
Que não precisam falar para se expressar.
Por isso bebem.

E não por que prezo o silêncio
(embora o preze)
Mas por que é no silencio
Que me escuto
E me escutando
É que percebo quem sou.

Eu bebo a cada minuto de silêncio
Pelas almas daqueles que falam demais,
Pelo desejo ardente
Daqueles que não sabem o que dizer.
Bebo para esquecer.
Esquecer tudo aquilo eu disse,
Tudo aquilo que faltou dizer
E todo o resto que a convenção
Não me deixou falar.

Bebo a cada minuto de silêncio
Por que cada minuto bebido em silêncio
É horas de embriagues não dita.
A vida não dita suas regras.
Sou eu o ditado para a vida.

sábado, 18 de julho de 2009

Descrição "bucólica" da real realidade poética da minha realidade mundana no sábado 18 de julho de 2009 as 19h14min.

A mesa tem 45 centimetros de comprimento por 30 centimetros de largura.
Ocupando metade desta o lap top de tela aberta e letras surgindo.
Á esquerda, como quem se opõe para participar,
Três quartos de uma barra de chocolate,
um cinzeiro com sotaque pernambucano,
uma cartela de ingressos para o parque de diversões,
uma latinha "Fisherman's Friend" com bússula e canivete,
o controle mudo do aparelho de DVD,
um Pen Drive "Super USB" e
um copinho de martelinho com bafo de Jack Daniel's.
No rádio Chico Buarque e sua inútil dificuldade de dizer o que foi bonito e seu inútil canto do que se perdeu.
Em mim?
Ora, esta imensa saudade do que não sou...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

irritação

a noite se atirou sobre o predio. atirei sobre mim o edredon. cruzei os punhos abaixo do queixo e me encolhi de frio esperando o sono. mera ilusão. de repente trovões. o vento balança a cortina, que bate no cabideiro, que balança o casaco, que faz barulho, que me irrita. a gata, femea, não sabe o tamanho exato do universo e entra no cio 2 vezes por mes. de repente começa a miar, agitar-se pelo quarto, esfregar-se nas paredes. clama pelo sexo alheio fazendo barulho que me irrita. o vento, insatisfeito em fazer barulho no cabideiro, entra pela sala, atravessa a cozinha e vem empurrar a porta do meu quarto, que balança, sacode a chave, rebate a parede, finje que tranca mas não tranca e irriquieta produz um barulho que me irrita. o que era frio borbulha pelo corpo num calor irritante. voa o edredon chão acima. a gata corre pra debaixo da cama. chuto o ar como centro-avante. respiro fundo. relaxo. são 00:15. tenho que acordar as 6h. o dia vai ser longo. respiro fundo. mentalizo o mar. o vento sossega. silencio. paz. faço as pazes com o edredon que volta a me abraçar. encolho as pernas afetivamente e espero o sono. que sonho. a gata, femea, não sabe do perigo da morte e resolve comer. a ração quebra-se entre seus dentes produzindo na imensidão do silencio da noite um estrondo de trovão. repete descompasada a trovoada. o vento ouve o chamado e traz a chuva que balança a cortina, que empurra a porta, que faz barulho, que me irrita. o edredon voa novamente. pulo num levanto e procuro a extensão exata do quarto em coices ao leu. abro a janela, encaro a noite, faço cara feia para o vento e procuro um palavrão bem cabeludo e extenso: "pêloreverbofagiacapilar!!!!". blasfemo. procuro culpados. a gata não respira. o vento não pia. a porta não ousa. quem mandou, justo hoje, beber refrigerante antes de dormir? duas latas. odeio a coca cola! são 01h05. tenho que acordar as 6h. vai ser um dia longo. deito. respiro. preciso me acalmar. converso manso com o edredon que volta para a cama. chamo a gata. deito-a comigo e aliso o pêlo, calmo e delicadamente. respiro pro fundo. mentalizo um campo, verde, florido, com arvores de belas copas ao longo. os pés descalços. a umidade da grama. a brisa leve que me balança os cabelos. sorrio agradavel e afundo-me no travesseiro recebendo o sono.
são 2h16. a gata mia, o vento balança, o edredon não voltou mais pra cima, a porta dança, tudo isso me irrita. e eu tenho que acordar as 6h. vai ser um dia muito longo.

terça-feira, 30 de junho de 2009

O mundo dá voltas. Ah, voltas...

Amanda, enfim, postou-se ante o computador e com a tela aberta em característico branco de susto, fitou-se com ar de admiração e saudade. Tempos decorrido em silencio e palavras perdidas ao vento. Queria e precisava escrever. Mas, como de praxe, não sabia o que. Sabia o que sentia e que este aperto no peito era evidencia de poesia e dor. Levantou-se para uma dose. Jack deve entendê-la. Nos dedos o cigarro aceso. A música repetia-se como uma lagrima que não desprende dos olhos. Assim, a raiva é lamento; a decepção é inquestionável; a saudade é inevitável. Dor.

O que esperar do amor? O que esperar de duas almas que por um motivo desconhecido pela razão se unem e resolvem que o caminho deve ser trilhado a dois? O que esperar quando o que atinge a motivação de um ser é o sorriso de outro ser?

“Decidi que não te escrevia nada,
Que deixaria a noite antepor-se a aurora
E que com os raios quentes de um novo dia
Pudessem as coisas falarem por si.
Mas assim como é inevitável chorar de saudade
É inevitável que estas linhas surjam ásperas e doloridas.
Tua negação ao meu pedido primeiro
É como uma planta de folhas largas
Perdida no deserto
Rodeada de pequenas pedras.*
Ver tua boca desferir-me argumentos de educação
É como ver a primavera pedir licença
À flor antes de desabrochá-la.
É como ver surgir no horizonte poente
Um tímido risco rubro,
Que não pinta a vista do poeta
Por medo que não seja esta a vontade
Do fim da tarde.
Quando me dizes não por desconfiares de minha vontade
É como ver repetir a manhã,
Que não se ergue em dia,
Por receio e educação.
É como ver o barco imóvel
Por que a correnteza não quer levá-lo
Ao grande mar
Temerosa pela atitude a ser feita.
Quando assim o fazes
Negas o que plantamos
Com cuidado e aninho nos nossos destinos.
Se não era a vontade da terra
Ver a macieira oferecer a maçã,
Por que então deixou-se envolver na semente?
Tenho medo do orgulho demasiado.
Tenho medo da euforia demasiada.
Tu podes culpar a uva.
Mas eu culpo á ti.”

Sorveu assim o ultimo gole, fechou a tela do computador em preto luto e pôs-se á dormir só...

*citação á Bernard Marie Koltés – “Tabataba”

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O que é, é?

O melhor de viajar é não estar no lugar cotidiano. Ter ainda um horizonte a frente, mas não o mesmo. Ter um ainda um ar que o respira, mas não o mesmo ar, que por vezes, o sufoca, dado o cotidiano. É um acordar sempre a mesma hora, ás nove antes do meridiano, mas não para estar atrasado. É almoçar a mesma coxa de galinha. Mas não ao molho, desta vez frita. É ver o mesmo ato de encenar em teatro, mas desta vez, não com os mesmos atores já manjados, Lisboetas ou Parnanguaras, e não ter como publico parentes e goteiras desarranjadas. O bom de viajar é ver que, mesmo incredulamente, existe ainda mais para se ver.
O ruim de viajar é a volta. É quando tudo acaba. É quando abre-se a mesma porta de sempre, sob a mesma estação de sempre, ante a mesma mesmice de sempre. É perceber que nada muda por mais que se perdure a busca da mudança e que o máximo que se tem de modernidade é a edição nova dos sonhos alcoólicos de mesa de bar.
Daí o que fica é este olhar baixo, este pensar distante, este calar-se continuo, este deixar-se de lado para lembrar. Esta vontade de voltar e viver de viajem, por que a viajem não traz o cotidiano. Por que o cotidiano é o medo do desconhecido e viajar é ter o desconhecido pela mão como companhia.
Eis que, nestas noites cotidianas, fica esta pergunta: Mas e daí? Agora o que resta é debruçar-se sobre as teclas e lacrimejar nelas as horas antes da próxima viajem? É aninhar-se nas lãs das criticas inconformadas e nelas dormir o sono dos acomodados?
Sinceramente, eu sinto falta de uma São Leopoldo que não sei se um dia existiu. Uma São Leopoldo, berço de meu cotidiano, capaz de surpreender os olhos dos que lêem e os ouvidos dos que ouvem. Uma São Leopoldo capaz de fazer suprir esta necessidade do novo, do inexplorável, do que ainda há porvir.
Pessoalmente (e é a nas minhas vivencias pessoais que se baseia este blog e este texto), conheço uma porção de escritores, poetas, cronistas, músicos, artistas, atores, dançarinos que não fazem nada mais do que apenas sobreviver á uma corriqueira arte que não surpreende nem transcende. Nada mais do que mentes que iluminam apenas o necessário. Nada mais do que (pseudos) intelectuais que não fazem mais do que o necessário para serem o que são. De uma administração política, que governa a cidade, apenas com o trivial e o básico. Justifico esta última linha salientando que o governo anterior nada fez, portanto, o pouco que se faz agora já é muito. Mas este muito ainda é pouco, sabendo-se que ainda prevalecem as politicagens de sacanagem que nos acompanham desde o Império.
Após este ponto reacende-me a pergunta: Mas e daí? O que posso eu falar se ainda sou este mesmo de sempre, submerso em minhas esperanças, em minhas frustrações, que nunca passou de um Manifesto do Teatro Futurista e de um BAND AID na camisa? Como posso eu fazer qualquer critica se não passo de mais um alvo de minha própria critica?
Para quem abre um sorriso malicioso, repondo: não sei. Talvez...
O que sei é que ainda escrevo e escrevendo pergunto, desabafo, perturbo.
Quero e espero uma mudança, como espera a chuva o cactos do deserto.
Até lá bebo, fumo e viajo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Amanda vai viajar...

Amanda retirou os fones de ouvido da mochila, colocou-os em tiara sobre os cabelos, respirou fundo, segurou o MP3 com a mão esquerda e pressionando o dedo polegar sobre o “Play” pôs-se a caminhar. Saía de casa, do quarto, da tela do computador, para distribuir pela cidade um pouco de seus pensamentos. A musica como companhia inspirava-a.
Trilhava oculta sob as sombras dos casarios antigos iluminados pela luz perola da lua e deixava-se revelar quando banhava-se da mesma luz. Nas caminhadas noturnos os olhos não precisam dirigir-se a frente, além dos pés. Podem fixar-se junto dos mesmos. E ambos andam lentos, calmos, sem a pressa diurna ou a necessidade objetiva dos otimistas. Caminhar a esmo, ao sabor do vento, é embalar-se ao som das harpas angelicais. Anjos. Amanda precisa caminhar. Amanda precisa pensar...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Não sei...

Não sei.
As vezes fico assim,
olhos vidrados no branco
mente perdida no passado,
uma vontade de correr para teus braços
de beijar a tua boca
de morrer de amores no teu sexo.
Vontade de recomeçar,
esquecer, mudar,
transformar a poesia
em recado,
em bilhete de não esqueça o mercado.

Olhares noturnos,
remelas diurnas,
halito madrigal,
gordura vegetal.
Café sem açucar,
cabelo na boca,
brigas embreagadas,
sexo nas escadas.

Não sei.

Pode ser que seja alcool, THC, nostalgia,
nicotina ou pura sem vergonhice.
Não sei.
Mas as vezes fico assim...