quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fragmento

Amanhã será o último dia.
Os dois estão sentados na beira mar. Atrás do mar, na beira do horizonte, o sol pinta de vermelho poente as águas. Uma brisa delicada acaricia-lhes os cabelos.
Estão lado a lado, abraçados em suas pernas, observando em silêncio a chegada da noite.
- Vamos comigo pra Minas? diz ela, olhando-o rapidamente.
- Minas? – surpreende-se ele, rabiscando a areia com o indicador.
- É.
Ele levanta a cabeça e ilumina-se de crepúsculo.
- E eu faria o que lá?
Ela suspira.
- Sei lá. Depois a gente vê.
Ela olha pra ele e sorri. Ele voltasse para ela e também sorri. Olhos nos olhos, brilham! Estão pintados de um laranja rubro.
Amanhã será o primeiro dia.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

paco

era uma sexta feira, Feliz,
e lá na praça uma anguzada.
como seres na feira, felizes,
esburgavam entre as arvores.

embora em pares, pasmem!,
eram amigos indeiscentes.
embolavam seus ares, aréola!,
mas não se permitiam oscular.

agravante?
ediondo?
insâno?
obstante?

unicidade!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Pelas ruas

- Últimamente tenho pensado mais do que o frequente. Principalmente pensado em coisas fúteis. Outro dia, caminhando pela São Peulo, imanginei-me num daqueles belos edificos. Sentado, na varanda...não, no terraço. Vista panoramica do rio, do por-do-sol. Preferia as varandas voltadas para o por-do-sol. As que me trazem o amanhecer eu deconsidero. Acho um desperdicio de espaço. Não por desacreditar no amanhecer, acredito até que o amor é o proprio amanhecer; que poucos sabem ver. Acontece que ver o por-do-sol é como amanhecer para a noite, para os sonhos. Porque a noite é como um suspiro da terra. É quando ela, repentinamente, suspira profundo e com a brisa que produz, acalenta os olhos lacrimejosos do poeta. O tom alaranjado do horizonte é tal qual o beijo vermelho da mulher amada. Tal qual o toque suave do céu para com a terra: um carinho tenro e quente. Monet devia apreciar o por-do-sol.
Não sei. Últimamente tenho pensado nestas coisas.
Caminhando á beira do rio, imagino-me perdido numa trilha no meio de lugar algum que não levam para nenhum lugar. Imerso no verde das arvores que te seguem; conduzido pelo claro refletir dos raios do sol nas aguas claras do rio. Em vez de fones, rádios, carros, mp3 e toda embreagues, os passaros. Em vez dos postes, o vento. Sozinho. Me pergunto se é melhor se sofrer junto do que ser feliz sozinho. Sozinho...
Não sei, ando pensando em tanta coisa que nada me é nitido como um caminho á trilhar.
Talvez, por que de tudo ao meu amor serei atento antes. E com um tal zelo e sempre e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pelas esquinas

Livraria lotada. Nas mesas, cervejas, wuisks, cachaças, cigarros e pessoas. Muitas pessoas. Em geral, pseudo-intelectuais. Discutem categóricamente sobre futebol, os melhores puteiros da cidade; citações de grandes bêbados ecôam de todos os cantos. As mesas da rua, com suas pessoas pseudo-intelectulizadas, ditam o ritmo da noite que segue seu curso escuro. De cima de seus jipes, se divertem ameacando uns aos outros com facas no pescoço. E como riem. De tudo e de todos. Talvez por que possuam respostas para alguma pergunta feita sobre felicidade. Do canto, em meio a fumaça que sai de seus pulmões, um deles levanta-se e, aos gritos proféticos, silência a livraria que o escuta com atenção:
- Este é o momento de começar! Começem! Agora mesmo, com um único passo. Dirijan-se para o interior de vocês mesmos e observem. O que há para ver? O que há para se falar sobre nós mesmos? O que há para contar em mesas de bar sobre o que constrói nossa história aqui nesta vida, no nosso meio social? Quem somos nós para nós mesmos? O que fazemos com nossos sonhos? Quantas vezes já nos conformamos com um sonho não realizado, com um objetivo não acalnçado. Onde dorme a criança sonhadora que todos vocês foram um dia? Onde dorme aquela criança que sonhava ser, guando crescesse, astronauta, bombeiro, cientista, duble de cinema, veterinária, modelo, presidente da republica? O que fizemos com nossos sonhos? O que somos agora? Cidadãos tributaveis, inseridos num sistema que não visa a realização pessoal, mas se baseia na aceitação social. Somos o que queremos ser ou somos o que temos que ser? Quem anda ditando essas regras tão severas de compotamento? Quem anda espalhando por ai que eu não posso? Por que tantos de nós não somos o que gostariamos de ser e se conformam com o que há para ser? Não parece óbvio que tem alguma coisa errada? A generalização das drogas, licitas ou ilicitas, prova que não queremos mais um motivo para continuar convivendo com esta realidade que nos é imposta. Como é bom escrever. Mas a escrita é para provar a nós mesmos do que somos capazes. Porém, as deixamos avulsas na rede. E vamos simplesmente aceitar esse fato e pedir mais uma cerveja? Será mesmo que não é hora de começar?
Silêncio. A livraria parece imersa profundamente nos pensamentos bravados. Os copos ficam inértes. De repente alguém ergue-se ante a livraria atonita e também brava, levantando o copo meio vazio:
- Mazá!
E todos acordam de seus transes e gritam com seus copos meio vazio em riste:
- Mazá!
E brindam, rindo ainda mais do que antes.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

para entender basta ouvir

O Vencedor
Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

Olha lá quem vem do lado oposto
E vem sem gosto de viver
Olha lá que os bravos são escravos
Sãos e salvos de sofrer
Olha lá quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor,
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração

Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?

Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Quanto?

Quantas vezes já me peguei aqui sentado,
Com as pernas cruzadas,
Pensamentos paralelos e
Cigarro empunhado ao céu?

Quantas horas já passei me tendo
De momento em momento,
Contando quantas vezes
Nesta posição já me peguei?

Quantas e quantas vezes já fiquei
Nesta posição de horas cruzadas
Empunhando momentos
E fumando pensamentos?

Será mesmo?

E quanto é só um momento?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Bossa, fossa, nossa bosta.

Amanda saiu do banho e se permitiu ficar nua. Colocou o cinceiro ao alcance da mão direita, repousou sobre ele o cigarro acesso e do copo vazio fez cheio com a cerveja que inebria. Olha pela janela. Diziam que choveria torrencialmente, mas o que se viu foi uma chuva esparssa, sem muitos pingos ou motivos para molhar. A cidade, como de costume, pintou-se de um amarelo urbano caracteristico das noites de chuva. Entre uma partida e outra do trem, perdia-se entre os pingos que pingavam sobre o parapeito da janela. Alguma coisa faltava. Ou ainda falta. Mas Amanda não sabe o que é. Traga profundo, bebe voluptuosamente, observa distante, descreve mas não diz nada. Alguma coisa falta. De repente sentiu saudade. Da brisa que inundou seu quarto e fez balançar a cortina, catou uma ponta de saudade que pendia da nostalgia "bucólica" daquela noite e, como um pequeno principe, agarrou-se no rabo deste cometa e deixou-se sentir saudade. Sentia saudade dos bons tempos em que podia sofrer em paz; de quando a vida passava mansa pela tarde que se desfazia entre um acorde musical e outro; do amor que abundantemente sentia; das impulsividades maravilhosas que causavam um arrempendimento poético e necessário. Tomou mas um gole, deu outra tragada, observou ainda mais distante. Como podem as coisas caminharem com tamanha velocidade? Quando menos se percebe, já estamos num caminho diferente daquele primordialmente preferido e o retorno já ficou pra trás a muito tempo. De repente, não mais que de repente, as coisas já são. Já não temos mais aquela velha promessa de esperança; já não são mais de ressaca os olhos da amada; já não é mais o amor eterno enquanto dure; já não se fazem mais poesias de solidão e a solidão já não traz mais a poesia. De repente, tudo o que poderia ser torna-se feito e tudo o que está feito não é mais como poderia ser. Já não sorrimos mais com tantos dentes; já não brilhamos com tantos olhos; já não abraçamos mais com tantos braços e mesmo a manhã já não é mais tão única. De repente, acordar pela manhã é corriqueiro e enfadonho. De repente a amizade já não é mais como o sol do meio dia, que aquece e ilumina. E de repente chega o entardecer e o dia acaba ao anoitecer. Mas amanhã começa de novo, no mesmo horario, com os mesmos compromissos, com as mesmas decepções, com as mesmas desventuras de um dia corriqueiro e rotineiro. E de repente... nada mais. O que era plano é agora lembrança.
Amanda pega seu bloquinho e anota: preciso viajar!
Traga o último gole, bebe seu último "suspirar pra dentro" e se atira da cauda do cometa ante o chão cru e aspero do seu sono.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Lembranças

São Leopoldo ERA a cidade da noite. ERA, quando reinava por estas bandas, para deleite dos baladeiros, o Manara Bar, o Expresso 356 e outras casas noturnas que não me lembro o nome. Mas ERA. E hoje, como é lembrada São Leopoldo? Pela briga e morte de integrantes de torcidas (des)organizadas do futebol? Pela mortandade de peixes do Rio dos Sinos? Pelo relato do secretario da cultura que diz que os artistas da cidade não receberam seu cachê por sua atuação na São Leopoldo Fest 2008 (em julho) por falta de apresentação de documentos para o recebimento do devido cachê, sendo que estes documentos são entregues por uma produtora que haje como "guarda-chuva" para estes valores (o que mostra uma total desorganização da Secretaria da Cultura e da prefeitura municipal em relação aos seus artistas)? Pelas lojinhas de R$ 1,99 que se acumulam em qualquer ponto e pelo crescimento desenfreado de estacionamentos privados que literalmente destroem nosso patrimonio arquitetonico histórico cultural? É isso? Não, não é assim que eu quero que a cidade seja lembrada. E vendo meu peixe: gostaria que a cidade fosse lembrada por sua cultura artistica. E para isto faço minha parte.
Pessoalmente (ás vezes recebendo $ por isso, ás vezes não), atuo como um "ativista cultural", levando, principalmente teatro, para vilas, ruelas, igrejas e botecos interessados. Vez por outra, quando de um incentivo maior feito o SESC, fecho a rua São Caetano e ajudo a produzir um grande evento com musica, poesia, cinema e liberdade de espressão (sem receber $ por isso). E qual o resultado? Criticas! Por que há em São leopoldo uma necessidade de criticar, de se fazer critico. Nunca, em todo o tempo que atuo como "ativista cultural", vi tamanha necessidade de criticar como esta atual em São Leopoldo. Tem gente criticando a propria critica. Tem gente que não sabe o que quer e por não saber o que quer, critica o que pode vir. O que é uma pena pois São Leopoldo ficou muito tempo sem iniciativa cultural e agora quando tem uma é abafada por estas criticas incabiveiis e desnecessárias.

Outro dia ouvi dizer que a Livraria do Trem é lugar de pseudo-intelectuais. Pseudo-intelectuais? E onde é que se concentram os intelectuais? No Bar do André? Na Embaixada do Rock? No Mack Bar? Na Unisinos? Numa boa, vão á merda todos estes que se preocupam em criticar e pouco sabem o que sai de seus cus.

Conversando com Elário Casper, maquiador de Novo Hamburgo (que inclusive fez um bélissimo trabalho na esquete "O Passáro de Vôo Curto", com texto de Alcione Araújo e representado pelo Teatro Luz e Cena no festival de esquetes de São Leopoldo. Aliás, você sabia que teve um festival de esquetes teatrais em São Leopoldo?), discutiamos que São Leopoldo agora precisa construir uma politica de público para seus eventos, uma vez que temos um espaço, o Teatro Municipal. Mas não adianta. A julgar pela repercussão que teve o nome dado á uma esquina da cidade, somos, e sempre seremos, uma cidade de prepotentes que não fazem nada por sua própria cidade, por sua própria arte, por seu próprio público.
Então vamos criticar? Não! Quer criticar ajude á construir. Ou cala-te e ajude, simplesmente, á observar.

Do mais, concordo com Éver Ribeiro de que devemos fechar sempre a São Caetano para novos eventos com o apoio incondicional da Livraria do Trem, que, mesmo tendo que vender cerveja para continuar funcionando, apóia e celebra como poucos a cultura artistica desta cidade. É preciso mais do que nunca nos esforçar-mos para o fomento da arte, principalmente popular, em São Leopoldo.

Se não, seremos lembrados pelo que?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Farândola, Fotos Farândola

Sim, de mãos dadas e seguindo para o mesmo rumo, mas em caminhos diferentes, 28/11/08 marcou o nascimento do Farândola. Música, poesia, pintura, cinema e bom tempo marcaram esta manifestação marginal de cultura que fechou a rua são caetano e abriu muitas almas deseperadas por uma luz ao luar. Eu deveria escrever sobre; mas não vou. Não hoje.
Pra quem não foi, seguem as fotos; por Giovani Paim.

http://www.fotolog.com/giovanipaim02