domingo, 29 de março de 2009

Os Insetos Interiores

a futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos.
Nocivos.
Poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia
o veneno se refugia no espelho do armário - lembrou um deles.
o ninho deve estar infectado! – lembrou outro.
Antes do sono: o beijo de boa noite.
Antes da insônia: a benção.
Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa: a família.
São soníferos...
Chagas sem curas.
Não reproduzem. são inférteis, infiéis, infertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas.
cortam os troncos
Urinam nos rios
E na soma dos desagravos, greves e desapegos,
esquecem-se de si.
Pontuam-se.
A cria que se crie!
A dona que se dane!

Os insetos interiores proliferam-se assim... na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estomago
a sensação de... ? O que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformado parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada que romper
com as correntes de preguiça e mal dizer
Silenciam-se no holocausto da subserviência,
O organismo não se anima mais.

E assim, animais ou menos assim...
Descompromissados com o próprio rumo,
desprovidos de caráter e coragem
desatentos ao próprio tesouro...
Caem.

Desacordam todos os dias
não mensuram suas perdas e imposturas!
Não almejam.
Não alma.

Já não mais amor.

Assim são:
Os insetos interiores


Fernando Anitelli
O Teatro Mágico

sábado, 21 de março de 2009

zero e trinta e dois

Desde que o outono começou tenho os olhos perdidos, vidrados, no vazio que deixam as folhas que caem. Como que procurado a mim mesmo, questiono-me sobre o vazio que há em minha vida. E as folhas, Mario, ainda caem. Melancolicamente caem.
Fico sentado no parapeito da janela, de frente pra noite, vendo os apartamentos á frente e suas sacadas viradas para o oeste e me perguntando “por quê”? Não que eu sempre tenha uma pergunta armada, pronta para acertar uma pequena depressão. Mas acontece que as respostas que antes aqui estavam derreteram-se com o gelo das ultimas doses. E não que eu queira ter certeza de tudo, mas que está cada vez mais difícil entender, isso está! É como tentar explicar a cor azul do céu em dias nublados. Não é apenas a falta que você me faz, embora sentir tua falta seja a sede que minha poesia bebe entre os cálices e as doses que me amparam. Acontece que há também esta inútil necessidade de sentir-se útil.
Queria por um instante, um instante do tempo relativo de Einstein, sumir de mim mesmo e deixar-me esquecer de tudo aquilo que sou ou que fui e recomeçar. Como o polén que faz nascer uma nova flor, após desprender-se do bico do beija-flor. Eu me acomodaria, em silêncio, nos teus braços e deixaria que a tarde passasse com a pressa dos goles que se bebem na ultima cerveja que se serve. Não protestaria ante as resoluções cômodas e insensíveis de uma sociedade que não enxerga mais além de que seu próprio passo individual (como se não caminhássemos todos para o mesmo eterno morrer coletivo da vida carnal). Tornaria as coisas mais simples antes mesmo de compreender o que é a simplicidade das coisas. Não haveria regra, ideologia ou poesia de solidão de sábados a noite, por que, nestas noites, eu estaria nas sacadas dos edifícios que apontam para o oeste fumando meu cigarro, enquanto nosso anjo Gabriel já sonha no mundo dos sonhos infantis. Depois, o beijo tenro teu e a luz que se apaga. Por que nosso pecado é só nosso...
Eu sei! Romântico demais.
Mas acontece. É outono e no outono todos os caminhos são amarelos e todos os poemas são românticos e melancólicos.
Assim como as folhas que caem, Mario.
Assim como esta dor que nunca passa...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Paramaral

Ah, meu amor,
Você é meu sonho distante
E minha insonia presente.
Meus olhos brilham pela
Lembrança que é tua
E meu sorriso sorri
Pela presença que vem de ti.
Nada mais,
Senão,
Saudade.
Para cada noite de embriagues
uma nova poesia.
Não mude,
Apenas se incomode.
És os versos madrigais
Sobre minha saudade diurna...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Olhos nos Olhos

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz


Chico Buarque/1976

domingo, 15 de março de 2009

Domingo

O dia nasceu pelas horas da aurora, ao toque suave e alegre do sol quente que
brilhava. Embora eu não estivesse acordado para ver de fato, podia sentir pela felicidade que entrava pela janela e iluminava meus sonhos. Já na tarde, acordado, pude ver o céu esmiuçar e, chumbo, despencar em tristeza sobre o poeta.
De repente, não mais que de repente.

E pensar sobre a vida, agora, é uma poesia triste, um soneto despedaçado. Cinzas de cigarro atiradas sob os dedos que desabafam angustiados. Não faz mais nenhum sentido as coisas terem algum sentido. O coração não quer deixar o corpo descansar e o corpo quer provar ao coração que não há mais nada a fazer, além de atirar-se nos braços da melancolia e ter a solidão como única companhia. Os olhos se recusam a brilhar.

Vontade de ficar assim, só, perdido no escuro dentro de mim.

sábado, 14 de março de 2009

Adeus

Ja era...
Esqueça-me que sou apenas mais um...
Trago-te o gozo momentaneo pois é tudo o que pedes...
Não sou mais teu amor...
Vou ser o sofrimento de minha poesia e nada mais....
Sou apenas outro que morre pelo teu amor vazio...
Apenas mais um...
E de morrer tanto e sempre
É que aprendi que não fazes questão de minha morte nem minha vida...
Queres tua ideologia e para ela te entrego...
Sejas feliz que também serei...
Se me procurares te negarei, não insista...
Se não me queres tb não te quero...
Se não sabes amar eu não vou mais te ensinar...
Adeus...
Perdes-tes quem mais te amava por um devaneio teu...
Espero que sejas feliz ao modo que puderes,
Mas não sera ao lado meu...
Adeus...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.







Vinicius de Moares - Nova York, 1950

sábado, 7 de março de 2009

"Há um homem sofrendo de saudade, porque hoje é sabado."

se tem uma coisa que eu gostaria de ter muito, é afinação de bossa nova para cantar e tocar piano tal qual tom jobim. simples assim. se me perguntassem era isso que eu diria. Voz e piano de tom jobim. ou voz de joão gilberto e piano de tom jobim. ser musical. usar da expressão melódica para responder aos sentimentos mais sublimes, como a dor e o amor. talvez por que a musica é para mim o mesmo que o vento é para as asas do passaro. fundamental ao passo diário é a trilha sonora. e convenhamos, a sociedade contribuiu e muito para disseminação de aparelhos de mp 3, 4, 9, 12... seja lá em que numero isto esteja. A poluição sonora das ruas do centro de São Leopoldo, por exemplo, desmotivam qualquer possibilidade de se caminhar percebendo a sonoridade natural do dia. Me nego.
e depois, por que certas musicas dizem aquilo tudo que era pra ser dito, mas que vc não conseguia escrever ou expressar. A musica.
e ligia, do Tom e do Chico, hoje, sabado preguiçoso no sétimo dia de março de 2009, diz tanta coisa que fiz questão de posta-la.
preferia o audio, mas me foge a capacidade de realizar tal feito. ever, aceito ajuda.
"moça das joaninhas, esta é pra você"...(Renato Russo)


Lígia
( Chico Buarque / Tom Jobim )

Eu nunca sonhei com você,
nunca fui ao cinema
Não gosto de samba,
não vou a Ipanema,
não gosto de chuva,
não gosto de sol

E quando eu lhe telefonei,
desliguei, foi engano,
o seu nome eu não sei
Esqueci no piano
as bobagens de amor
que eu iria dizer, não... Lígia, Lígia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
num fim de semana
Um chopp gelado em Copacabana,
andar pela praia até o Leblon

E quando eu me apaixonei,
não passou de ilusão,
seu nome rasguei
Fiz um samba canção
das mentiras de amor
que aprendi com você, é Lígia, Lígia

E quando você me envolver
nos seus braços serenos
eu vou me render
Mas seus olhos morenos
me metem mais medo
que um raio de sol, Lígia, Lígia

segunda-feira, 2 de março de 2009

Da saudade de Amanda

A meia luz do meio dia invade o quarto e pinta-o de ocro. Lá fora chove e a claridade cinza destes dias nublados cega e faz a alma sentir mais do que os olhos podem ver. Sentada, imersa no canto escuro do quarto, Amanda, semi-nua, fita a parede branca como quem assiste a projeção de sua vida, passada quadro a quadro, como um filme. Esqueceu de almoçar para alimentar-se de melancolia e lembranças. Está um dia tão triste. As horas estão imóveis. O tempo que é o presente está descansando no passado, nos braços de um grande amor que a poesia já levou.
Amanda está lacrimejando a chuva lá de fora.
Um ponteiro saltou e o que era passado agora é presente.
Nada mais vai acontecer se nada acontecer.
É bem provavel que fique assim, nublado, até o final da semana.
É bem provavel que até lá, além da solidão, nada aconteça.

Por causa desta saudade que não passa...

domingo, 1 de março de 2009

Diz que fui por aí ou Samba para a morena de dezembro

Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando um violão
Debaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
E se houver motivo
É mais um samba que eu faço
Se quiserem saber
Se volto diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim

Tenho um violão
Prá me acompanhar
Tenho muitos amigos
Eu sou popular
Tenho a madrugada
Como companheira
A saudade me dói
No meu peito me rói
Eu estou na cidade
Eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela