segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Rotina

Ele preparou tudo antes.
Arrumou o melhor local, a melhor bebida e não esqueceu das velas.
De moto, a encontrou na saida de seu trabalho.
Ela adimirou-o de susto. Não era isso que tinham combinado. Sairiam para tomar um café.
Ao vê-la boquiaberta estendeu-lhe o outro capacete e fez sinal para que o coloca-se.
- Coloque, vamos. Vamos sair da rotina.
Eles recem haviam se conhecido. Ou melhor, encontrado. Ela já sabia dele de antes, das passadas silenciosas no centro da cidade.
- Como assim? Ir aonde?
- Suba. Confie em mim, eu dirijo bem. Nem vamos correr. Apenas venha.
Dois motivos a faziam titubear. Pimeiro era que aquilo era totalemnte insano. Jamais haviam se relacionado antes. O fato dela saber da existencia dele não era motivo para que ela o conhecesse. E segundo por que o outro capacete era de uma grosseria, num estado desgastado e com sérias duvidas sobre sua segurança e sua estética. Afinal de contas, ela trabalhava em lugar "charmoso". Não poderia sair do trabalho com um capacete daqueles.
- Venha. Logo o sol se esconde a perderemos o brilho do dia, vamos.
- Mas a gente tinha combinado de ir tomar um café. Tu tem uma reunião em uma hora e meia.
- A reunião foi cancelada. Eu cancelei. Não é todos os dias que se vive, é cada dia. Coloque o capacete e suba. Você vai gostar.
Algo nos olhos dele lhe traziam confiança. Respirou e olhou o capacete. Voltou os olhos pra ele. Ele reinterou confiante.
- Sair da rotina. Vem.
Talvez se pudesse, ela diria "foda-se. por que não? é sempre esta mesma coisa, mesmo. Acho que já está na hora de fazer algo diferente. Eu mereço. E estes olhos...", mas não disse nada. Apenas sorriu de canto de boca e colocou o capacete sobre o cabelo liso cuidadosamente penteado.
Ele sorriu largamente e colocou a bolsa dela sobre o ombro. Ela agarrou-lhe a cintura e num abraço confiante afirmou que estava pronta para sair da rotina.
Rumaram então pela cidade.
A luz da tarde pintava cada prédio, cada esquina, cada copa de árvore de laranja poente. A liberdade zunia pelos seus ouvidos quando ele pegou uma estrada paralela e começou a deixar os blocos cinza-alaranjados para trás. Aos poucos o ar foi mudando de tom e tornava-se esverdeado. Subiam. E quanto mais subiam, mais a tarde azul estedia-se novamente para eles. Os olhos dela brilhavam tal qual o sol. Estava admiada. Escorria-lhe uma lagrima, não se sabe se de emoção ou causada pelo vento que entrava pela viseira semiaberta do capacete. A poeira da estrada de chão deixava um rastro de cometa. Um cometa que realizava sonhos.
No topo mais alto do morro, pegou uma estrada perpendicular e parou ante uma porteira. Um senhor de calça jeans surrada e chapeu de palha na cabeça correu para abrir-lhes o caminho. A moto seguiu por um pequeno trilho de estrada e foi estacionar no topo, ao lado de uma figueira, a frente do horizonte poente que se atirava até onde os olhos podiam enxergar e deixava a cidade e as suas pessoas sem tempo tão pequeneninhas, que até parece que o proprio tempo as tenha esquecido em algum lugar no passado. No pé da árvore uma toalha branca abaraçava a grama verde e sobre ela repousavam uma garrafa de água, uma garrafa de vinho tinto, dois copos, duas taças, uma tábua com queijos e um pequeno arranjo de flores com velas. Ao lado uma pequena coberta de lã e dois travesseiros.
Ela desceu da moto estasiada. Retirou lentamente o capacete enquanto observava iluminada a vista que se pintava tal qual um quadro de Monet. Ele abriu o vinho, serviu as duas taças e parou cumplice ao lado dela. Estendeu-lhe uma taça e disse sorrindo com o sorriso dela.
- Bebamos esta noite.
Ela segurou a taça com a mão esquerda e sorriu-lhe com os olhos úmidos, agora sim de emoção.
A tarde espreguiçou-se para eles e a noite embreagou seus sonhos.
Para eles já não havia mais rotina.

Um comentário:

Tchakaruga de Paranaguá disse...

bLindo isso pô! sem falar na liberdade que só uma moto pode dar... muito bom, me deu até saudades. (da moto) hehehe.