segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Brilho eterno de uma mente sem lembranças (fragmento final)

Ela sai porta a fora invadindo o corredor do edificio com passos pesados e firmes. Sua decisão é sumir. Ele corre atrás, chegando de encontro á ela no meio do corredor:
- Espere!
Ela está de costas, seguindo. Pára. Indaga:
- O que?
- Eu não sei. Apenas espere.
- O que?
- Eu não sei. Só quero que espere... um pouco.
As mãos dele suplicam agitadas. O semblante dela rende-se á emoção e se deixa cair em piedade. Olham-se por segundos que parecem anos. Anos que não sabem se viveram realmente.
Ela suspira e resolve uma resposta:
- Ok.
Ele se aproxima dela. Estão frente a frente.
- Mesmo?
- Eu não sou um conceito, sou só uma garota ferrada procurando por paz de espirito. Não sou perfeita.
- Não vejo nada que não goste em você.
- Mas verá.
- Mas agora eu não vejo.
- Mas verá. Você vai achar coisas. E eu vou ficar entediada e me sentir presa, pois é isso que acontece comigo.
Ele a olha no fundo dos olhos como quem tem certeza de que já a conhece muito mais do que ele, ou ela, são capazes de definir e dá de ombros com um leve sorriso apaixonado no rosto:
- Tudo bem.
Ela fica estática, admirada com a resposta e com a exatidão de que não esperava dele resposta diferente. Os olhos úmidos deixam-se escorrer e transbordam. Num misto de espanto e ousadia, reintera:
- Tudo bem.
Ele sorri confiante. Ela chora sorrindo compulsivamente enquanto repete:
- Tudo bem.
Simplesmente se entregam ao riso e inundam o corredor branco e vazio de felicidade pura e ingenua, como somente aqueles que descobriram o que realmente pretende o amor são capazes de ter. Os corpos já não mais se mantem separados e são unidos por um abraço longo e quente.
A última e persistente lembrança que se tem dos dois, é ve-los correndo lado a lado na beira da praia coberta de neve.
Estão felizes por aqueles repetitivos instantes.
E é só isso que importa.

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