quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Insônia

Amanda saiu correndo pela chuva e chegou em casa á noite. Despiu-se, banhou-se, aqueceu-se e começou a sonhar. Entre cada sonho, um pedaço de céu se abria e de lá se viam estrelas, brilhantes estrelas que iluminavam o pouco que a janela aberta podia mostrar. Lá fora, chuva. Sonhava que podia. Que podia decidir e acreditar. Que as coisas mais impossiveis são as primeiras que se deve querer. E mais um pedaço de céu se abria e estrelava. Sabia que toda aquela água não passava de água, assim como a dor. Se vem e molha, a toalha seca. Como chorar a noite e iluminar-se pela aurora. Se as coisas eram realmente possiveis quem diria que eram? Quem seria capaz de transcorrer em regras manuais e gramaticais o que é de fato o que se é? Ou o que se quer? Quem pode afirmar, com a certeza absoluta da natureza fértil da primavera, que as regras para isto ou aquilo são estas ou aquelas? Quem? No céu, estrelas. Se nada pode ser provado por certo e há tantas filosofias vãs quanto á gotas no mar. Se todo o dia é um unico dia, como poderia haver a possibilidade (cômoda possibilidade), de se prever o que á porvir? Quem pode dizer á que horas uma flor vai acontecer? Assim como o amor... Estrelas.
Amanda pára e fita a parede branca. Amor. Se podia trascorrer sobre as inumeras respostas sobre perguntas do infinito, não poderia sequer rabiscar algo sobre o amor. O amor. Palavra que arrepia Amanda dos dedos á tela.
Em silencio a chuva cessa e o céu esconde suas estrelas, uma á uma, como botões que se fecham na camisa antes aberta. Aos poucos o cigarro é o único brilho do quarto. Aos poucos Amanda acorda e percebe que já são horas de dormir. A janela fecha o que resta da noite.
Lá fora começa a chover torrencialmente.

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