sexta-feira, 27 de junho de 2008

Mineirinho de seda

- Tava sentado agorinha mesmo na ponta duma nuvem. E era tão branquinha a nuvem. Flutuava lentamente na imensidão deste oceano azul que é o céu. Azulzinho. Liso, liso. Liso. Tão claro. Lá de cima ficava olhando cá pra baixo, balançando as pernas e pensando quão longe a gente fica quando não esta com os pés no chão. E fica tudo tão pequeninho. A gente que se acha tão grande e mal passa do tamanho de nossos medos. Diminui tanto. Fica do tamanho duma estrela. Umas formiguinhas eufóricas correndo pra lá e pra cá, quase que sem rumo. Vão indo e voltando pela mesma rua e, que diacho! de ninguém se olhar. Se desviam pelo radar sensorial da rotina. Só vão desviando, desviando. Um mais rápido que o outro. Mas aqui de cima são tão lentos. Lentos, lentos, lentos. Parecem uma lagrima que escorre de mansinho quando a gente ta assistindo um espetáculo de teatro emocionante demais da conta. Dava pra ver, lá de cima, na nuvem, longe, longe, longe. Com a ponta do dedo eu podia tocar as montanhas mais distantes e contornar toda a margem da terra, indo devagarzinho, devagarzinho, no ritmo da rotação da própria terra, entrando em harmonia com o universo e fazendo parte de um todo individual. Tão bom. Assim, o tempo não existe. Passa um segundo por segundo. Minuto por minuto, hora por hora. E os dias não passam, existem. E tem uma brisa que sopra de mansinho, como que fazendo caricia no rosto da gente. Parece aqueles carinhos suaves que a gente recebe da mulher que ama. Os dedos tocam de leve a pele que se arrepia num calafrio gostoso demais. Esquenta o coração. Que nem essa brisa que toca. Lá em cima não se escuta nada, mas se ouve tudo. É um silencio que preenche cada espaçinho que fica entre os olhos e a razão. Aquilo que se vê se ouve. O entendimento é inevitável. Você se acostuma, aqui em baixo, a ter que ver tanto quanto escuta. Preferencialmente muito em muito pouco. O que quer dizer “o que os olhos não vêem o coração não sente”? Lá de cima, quando se mira os olhos pra frente, vê-se um manto azul que se estende longe, tão longe, que chega a curvar-se para caber mais um pouco na visão. E se sopra um vento mais forte que conduz a nuvem junto de si, o manto segue estendido que não se acaba mais. Ao mesmo que o que os ouvidos escutam é o ritmo suave do pulsar da vida do teu corpo e de tua alma. E nada mais precisa para que tudo o que está acontecendo seja suficiente. Tem-se assim, todas as perguntas e todas as respostas. Mas é incrível como você não se importa em tê-las...
- Ô, astronauta. Vai passar ou não?
- Péra, cara... Tu não ta na viajem?
- Já to quase de cara. Passa logo.
- Formigas Petulantes!
- (tragada)

2 comentários:

Tchakaruga de Paranaguá disse...

oaksfrsgaté o diálogo final eu jurava que o Pequeno Príncipe tinha se tornado homem... (como é bom ter amigos assim)

Tchakaruga de Paranaguá disse...

(oaksfrsg) foi sem querer no meu comentário (deve se ler...) até o diálogo final eu....