quinta-feira, 10 de julho de 2008

10 de julho

Amanda esta sentada na beira do abismo. Seus pés balançam no vazio e suas mãos tocam o nada. Seus olhos estão fixos no horizonte. Não pensa em nada, apenas existe. Está imóvel. Somente seus pés identificam a vida que há em seu corpo. Do mais, inércia. Sopra uma brisa suave e fria. O azul do céu não é mais tão azul tanto quanto para o mineirinho. Confunde-se com um pouco de cinza vermelho alaranjado poente. Amanda está triste. É só o que está. Mesmo que se para alguém pudesse, nada falaria. Não tem nada para falar. Apenas olhar. São 27 anos. Longos 27 anos. Tanta coisa já vivida, tanta dor já sentida. Mas a dor é como o amor, como o amanhecer: sempre uma velha novidade. Para cada nova dor uma velha moral e um recomeço tortuoso. Fica uma certa obrigatoriedade em rumar pra frente. É o que sempre escuta dos seus, que é preciso rumar em frente. Levantar a cabeça e seguir, de novo, como uma fênix, como uma poesia de amor grudada no poste de luz que aos poucos a chuva vai corroendo, mas que o tempo vai fixando cada vez mais fundo. No intimo. Uma dor não nos desacompanha uma vez que já esteja conosco. Recebe outros nomes, outros rótulos, outros motivos, mas é sempre a mesma dor. A velha novidade de sempre. Como esta que Amanda sente agora. Uma dor tão óbvia que mal se dá ao trabalho de molhar-se em lagrimas. Que mal deixa escapar dos dedos já calejados versos que a exprimam. Que não passa de uma nuvem perdida no imenso oceano de uma tempestade. Desta vez vem com mais força, talvez por já ter sido tão amena. É como uma tuberculose mal curada: Sela os lábios num silencio mórbido. Retira o brilho dos olhos tal como um eclipse esconde o brilho da lua. Vem de leve, em tom de magnitude, mas deixa uma escuridão que desvenda o abismo negro do universo de nossas almas solitárias. Torna-se difícil demais acreditar que tudo um dia vai acabar. Tal qual um amor arrebatador. E Amanda bem sabe disso. Sabe que para cada novo amor que aflora em sua poesia, outras tantas dores crescem como espinho a sangrar suas mãos. Sempre fora assim e assim parece que sempre será. Mas desta vez vai tomar uma decisão. O medo vem do desejo de não errar. E todo o erro é a sombra do acerto. Tomará uma decisão. Mesmo que em suma de nada adiante, desta vez Amanda vai ouvir os conselhos alheios: vai levantar a cabeça para, enfim, dar um passo a frente...

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