sábado, 21 de março de 2009

zero e trinta e dois

Desde que o outono começou tenho os olhos perdidos, vidrados, no vazio que deixam as folhas que caem. Como que procurado a mim mesmo, questiono-me sobre o vazio que há em minha vida. E as folhas, Mario, ainda caem. Melancolicamente caem.
Fico sentado no parapeito da janela, de frente pra noite, vendo os apartamentos á frente e suas sacadas viradas para o oeste e me perguntando “por quê”? Não que eu sempre tenha uma pergunta armada, pronta para acertar uma pequena depressão. Mas acontece que as respostas que antes aqui estavam derreteram-se com o gelo das ultimas doses. E não que eu queira ter certeza de tudo, mas que está cada vez mais difícil entender, isso está! É como tentar explicar a cor azul do céu em dias nublados. Não é apenas a falta que você me faz, embora sentir tua falta seja a sede que minha poesia bebe entre os cálices e as doses que me amparam. Acontece que há também esta inútil necessidade de sentir-se útil.
Queria por um instante, um instante do tempo relativo de Einstein, sumir de mim mesmo e deixar-me esquecer de tudo aquilo que sou ou que fui e recomeçar. Como o polén que faz nascer uma nova flor, após desprender-se do bico do beija-flor. Eu me acomodaria, em silêncio, nos teus braços e deixaria que a tarde passasse com a pressa dos goles que se bebem na ultima cerveja que se serve. Não protestaria ante as resoluções cômodas e insensíveis de uma sociedade que não enxerga mais além de que seu próprio passo individual (como se não caminhássemos todos para o mesmo eterno morrer coletivo da vida carnal). Tornaria as coisas mais simples antes mesmo de compreender o que é a simplicidade das coisas. Não haveria regra, ideologia ou poesia de solidão de sábados a noite, por que, nestas noites, eu estaria nas sacadas dos edifícios que apontam para o oeste fumando meu cigarro, enquanto nosso anjo Gabriel já sonha no mundo dos sonhos infantis. Depois, o beijo tenro teu e a luz que se apaga. Por que nosso pecado é só nosso...
Eu sei! Romântico demais.
Mas acontece. É outono e no outono todos os caminhos são amarelos e todos os poemas são românticos e melancólicos.
Assim como as folhas que caem, Mario.
Assim como esta dor que nunca passa...

Um comentário:

Unknown disse...

nos meus braços em silêncio...
ate seu silêncio é certo