terça-feira, 30 de junho de 2009

O mundo dá voltas. Ah, voltas...

Amanda, enfim, postou-se ante o computador e com a tela aberta em característico branco de susto, fitou-se com ar de admiração e saudade. Tempos decorrido em silencio e palavras perdidas ao vento. Queria e precisava escrever. Mas, como de praxe, não sabia o que. Sabia o que sentia e que este aperto no peito era evidencia de poesia e dor. Levantou-se para uma dose. Jack deve entendê-la. Nos dedos o cigarro aceso. A música repetia-se como uma lagrima que não desprende dos olhos. Assim, a raiva é lamento; a decepção é inquestionável; a saudade é inevitável. Dor.

O que esperar do amor? O que esperar de duas almas que por um motivo desconhecido pela razão se unem e resolvem que o caminho deve ser trilhado a dois? O que esperar quando o que atinge a motivação de um ser é o sorriso de outro ser?

“Decidi que não te escrevia nada,
Que deixaria a noite antepor-se a aurora
E que com os raios quentes de um novo dia
Pudessem as coisas falarem por si.
Mas assim como é inevitável chorar de saudade
É inevitável que estas linhas surjam ásperas e doloridas.
Tua negação ao meu pedido primeiro
É como uma planta de folhas largas
Perdida no deserto
Rodeada de pequenas pedras.*
Ver tua boca desferir-me argumentos de educação
É como ver a primavera pedir licença
À flor antes de desabrochá-la.
É como ver surgir no horizonte poente
Um tímido risco rubro,
Que não pinta a vista do poeta
Por medo que não seja esta a vontade
Do fim da tarde.
Quando me dizes não por desconfiares de minha vontade
É como ver repetir a manhã,
Que não se ergue em dia,
Por receio e educação.
É como ver o barco imóvel
Por que a correnteza não quer levá-lo
Ao grande mar
Temerosa pela atitude a ser feita.
Quando assim o fazes
Negas o que plantamos
Com cuidado e aninho nos nossos destinos.
Se não era a vontade da terra
Ver a macieira oferecer a maçã,
Por que então deixou-se envolver na semente?
Tenho medo do orgulho demasiado.
Tenho medo da euforia demasiada.
Tu podes culpar a uva.
Mas eu culpo á ti.”

Sorveu assim o ultimo gole, fechou a tela do computador em preto luto e pôs-se á dormir só...

*citação á Bernard Marie Koltés – “Tabataba”

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